domingo, 30 de agosto de 2009

 Manuel de Araújo Porto-Alegre
 
Retrato de Manuel de Araújo Porto-alegre, 1848, 
Obras de Manuel de Araujo
Porto-Alegre
Dom Pedro I, óleo, 
Selva brasileira, aquarela, 
Estudo para painel decorativo, 1851, 
Pietà, aguada, acervo do Museu Júlio de Castilhos

Filho de Francisco José de Araújo e Francisca Antonia Viana, seu nome de batismo era Manuel José de Araújo, modificado para Pitangueira por espírito nativista, quando da Independência e, mais tarde, chegando à forma definitiva: Manuel de Araújo Porto-alegre, sendo equivocada a grafia Manuel de Araújo Porto-Alegre que alguns de seus biógrafos utilizam.

Porto-alegre chega ao Rio de Janeiro em janeiro de 1827, para matricular-se na Escola Militar do Rio de Janeiro. Estando, porém, a escola fechada, em férias, e como tinha noções de pintura e desenho (tendo sido, inclusive, pintor de cenários de teatro) e se matricula na Academia Imperial de Belas Artes, onde foi aluno de Jean Baptiste Debret.

Em 25 de julho de 1831 viaja para Paris, em companhia de seu mestre e amigo Debret, que deixava definitivamente o Brasil. Na Europa, estuda na Escola de Belas Artes de Paris e viaja pela Itália, Inglaterra, Países Baixos e Bélgica. Volta para o Rio de Janeiro em maio de 1837 e passa a desenvolver atividades variadas como arquiteto, professor de desenho, poeta e, inclusive, crítico e historiador de arte, área na qual também é considerado como fundador da disciplina no Brasil.

Patrono da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, Araujo Porto-Alegre ganhou nome de rua na cidade do Rio de Janeiro, justamente a rua onde fica a sede da histórica Associação Brasileira de ImprensaManuel de Araújo Porto-alegre foi vereador no Rio de Janeiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e nomeado diretor da Imperial Academia de Belas Artes em 1854, cargo que ocupou até 1857, quando iniciou sua carreira diplomática, primeiramente na Prússia, depois em Dresden (1860) e Lisboa, onde chegou em 1866 e permaneceu até sua morte. Em Lisboa recebeu o imperador Dom Pedro II, quando este saiu em viagem de férias pelo mundo.

Em 1865 encontrava-se em Dresda, na Alemanha, exercendo função diplomática. De lá, escreveu uma carta a seu amigo Joaquim Manuel de Macedo, que era professor dos filhos da Princesa Isabel. Nessa carta ele se declara espírita e fala de suas psicografias recebidas do Plano Espiritual, e conta que a Princesa Isabel lhe perguntou "quem é meu espírito protetor". A carta se encontra arquivada no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro e contém 12 páginas manuscritas. [1]

Em 1874 foi homenageado pelo imperador D. Pedro II com o título de Barão de Santo Angelo.

Casou no Rio de Janeiro em 1838 com Ana Paulina Delamare, baronesa de Santo Ângelo, falecida no Rio de Janeiro em 1901. Tiveram cinco filhos, dentre estes Carlota Porto-alegre, que foi a mulher do pintor Pedro Américo e Paulo Porto-alegre, diplomata.Era amigo e concunhado de Guilherme Schüch,Barão de Capanema,Casado com Eugenia Amelia Delamare.

Seus restos mortais foram trazidos ao Brasil em 1922.

Porto-alegre foi o primeiro artista a publicar uma caricatura no Brasil. Entre 1837 e 1839, de volta de sua viagem à Europa, Manuel de Araújo Porto-alegre produziu uma série de litografias satíricas que eram vendidas em unidades separadas nas ruas do Rio de Janeiro. A primeira circulou em 14 de dezembro de 1837, vendida por 160 réis, tinha por título A campainha e o cujo, não era assinada (sua autoria só seria reconhecida posteriormente) e apresentava o jornalista Justiniano José da Rocha, diretor do jornal Correio Oficial, ligado ao governo, recebendo um saco de dinheiro.

Nesse mesmo ano, o artista escreveria a peça Prólogo dramático, podendo, pois, ser considerado, sem grande margem de erro, nosso primeiro dramaturgo, já que tanto o Barroco como o Arcadismo, isso sem falar na fase inicial do próprio Romantismo, foram, na literatura, movimentos eminentemente poéticos.

Porto-alegre lançou ainda, em 1844, a revista Lanterna Mágica, primeira publicação de humor político da imprensa brasileira, que circulou por onze edições, incorporando a charge e a caricatura, que deixaram assim de ser vendidas separadamente. A publicação, que tinha o subtítulo Periódico plástico-filosófico, apresentava dois personagens que criticavam as situações do momento, Laverno e Belchior, à semelhança dos tipos Robert Macaire e Bertrand, criados pelo caricaturista francês Honoré Daumier e que tinha em Rafael Mendes de Carvalho seu principal desenhista.

Também deixou outras obras, entre elas, Colombo, Brazilianas e a Estátua Amazônica.

(Pietra/25/5E)

Rafael Mendes Carvalho. 

Um caricaturista na Corte

    Nascido em Laguna (SC) e falecido provavelmente no Rio de Janeiro. Pouco se sabe dos anos iniciais de sua carreira, além de que em 1837 era auxiliar do major-engenheiro Jerônimo Francisco Coelho no levantamento da planta de Laguna, e que dois anos depois pintou uma aquarela representando a Entrada da Esquadra Nacional na Vila de Laguna, em 15 de Novembro de 1839.

     Mudando-se para o Rio de Janeiro em fins de 1839 ou começos de 1840, notabilizou-se inicialmente como caricaturista, fazendo publicar a partir de 18 de janeiro de 1840 e até setembro desse ano uma série de 20 litografias jocosas, satirizando com muita verve costumes da Corte.

Decorador e desenhista e estudante

     Em 1841 está entre os ajudantes de Porto-alegre nas obras de reforma do Teatro São Pedro de Alcântara, ao lado de Barros Cabral, Malivert, Olivier e outros pintores-decoradores.

     Nesse mesmo ano publica, às próprias custas, um álbum no qual se apresenta como Desenhista da Casa Imperial: Coleção dos desenhos das principais iluminações nos dias da Coroação do Sr. D. Pedro II.

     Sempre em 1841, como pensionista de sua província natal, matricula-se na Escola de Arquitetos-Medidores, que funcionava desde 1836 em Niterói.

     Em 1842 torna-se aluno da Academia Imperial de Belas-Artes, dizendo Gonzaga Duque que estreou na Exposição Geral desse mesmo ano "com três retratos, uma pequena tela histórica, Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguroe um esboço para obra de grandes dimensões: Plantação da Cruz pelos Selvagens".

Mas este sou eu?

     Na Exposição de 1843, além de uma Deposição de Cristoexibiu um retrato do Desembargador Silva Pontes.

     Não agradou muito e, sobre a obra, diria o próprio retratado, no seu Diário de um presidente:

     «Para vergonha minha também se acha na exposição o mono que o Rafael diz ser meu retrato.»

Abrindo caminhos

     Em fins de 1844 surgia, no Rio de Janeiro, a Lanterna Mágica, com texto provavelmente de Porto-alegre, acompanhado de uma estampa avulsa, certamente de mão de Rafael, o qual se tornou assim o primeiro caricaturista brasileiro a publicar charges na Imprensa.

     Nos próximos números da publicação novas estampas litografadas vieram a lume, vazadas em excelente técnica e revelando quanto devia, o jovem brasileiro, a mestres como Daumier e Gavarni.

     No entretempo, Rafael fazia tamanhos progressos, na Academia Imperial, que a 17 de setembro de 1845 a Assembléia Legislativa do Império votava uma resolução em virtude da qual o governo ficava autorizado a enviá-lo à Itália, a fim de ali se aperfeiçoar, percebendo a mesada de 80 mil réis.

     Foi, essa, a primeira vez em que um aluno da Academia recebia, assim, um prêmio de viagem.

Um passeio na Argentina e no Uruguai

     Em 1850, já de volta da Europa havia algum tempo, Mendes de Carvalho esteve em Buenos Aires, logo passando ao Uruguai, permanecendo cerca de um ano em Concepción.

     Com o início da chamada Guerra do Rosasem dezembro de 1851, esse ditador lançou mão de caricaturistas para ridicularizar o Império e, de modo especial, o General Urquiza.

     Em janeiro de 1851 o Brasil contra-atacava através de um punhado de caricaturas de Rafael, as quais, distribuídas no teatro de operações e ainda em Buenos Aires e no Paraguai, causaram sensação.

Em Porto Alegre, como retratista

     Depois desse curioso episódio radicou-se o artista em Porto Alegre, como esclarece Damasceno:

     «Não podemos precisar a data de sua chegada à Província. Mas em 1855 já está instalado em Porto Alegre, onde, especialmente como professor de desenho e pintura, concorre de modo sensível para o desenvolvimento do gosto artístico local, à época muito desamparado de recursos e estímulos.»

     Nesse ano de 1855, com efeito, o pintor faz publicar um anúncio, oferecendo seus préstimos como retratista e professor, como segue:

     «Rafael Mendes de Carvalho, retratista, a óleo, acaba de receber de Paris um rico manequim e um sortimento completo de cores, telas, quadros e mais pertences de sua arte que o habilitam para apresentar trabalhos tão perfeitos como os que melhor forem.

     «Tem o seu estúdio a Rua do Ouvidor nº 36, onde as pessoas que o quiserem honrar com a sua confiança acharão as mostras de seus préstimos. Apesar do que, toda vez que a obra não sair a contento, obriga-se a renová-la ou a ficar com ela.

     «Também aceitará discípulos de toda classe de desenho, seja no seu estúdio, em colégios ou casas particulares, afiançando regularidade e desvelo em seu método de ensino. Pode ser procurado das 9 da manhã às 4 da tarde, diariamente, na citada casa de sua residência, Rua do Ouvidor, nº 36.»

Um fim incerto e não sabido

     Em Porto Alegre, onde se demorou aparentemente apenas alguns anos, executou Mendes de Carvalho vários retratos, decorações de bailes e obras de cenografia, além de ter lecionado a vários discípulos.

     Depois, não se sabe se deixou a cidade ou se nela veio a falecer, faltando-nos detalhes sobre seus derradeiros anos.

     Do artista, que praticou ainda a paisagem, ficou-nos somente um perfil grotesco, estampado no Charivari Nacional, jornal que se publicava no Rio de Janeiro em 1859. Nele, Rafael é descrito como uma espécie de lacaio de Porto-alegre, "um crioulo guapo, sacudido e vivo como azougue... um velhacote que sabe vender o seu peixe".

(Pietra/25/5E)

 

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